Ementas GTs

Ementas dos GTs do Encontro Nacional da ABET - 2013


1. Desenvolvimento, crises e implicações sobre o mundo trabalho
A atual crise econômica, iniciada em 2008, é a mais abrangente crise da era da Globalização, que foi desencadeada pelo sistema financeiro dos países mais centrais do capitalismo mundial. É uma crise que coloca em discussão os rumos da globalização, o papel dos Estados Nacionais na regulação da economia e as estratégias de enfrentamento da crise e do próprio desenvolvimento. Também indica a possibilidade de um rearranjo geopolítico, com a emergência dos países em desenvolvimento, especialmente da China. Ao trazer contundentes implicações para os níveis de emprego e para a qualidade dos vínculos de trabalho, requer ampla reflexão sobre as repercussões dessa crise sobre as tendências que vinham se esboçando no plano das relações de trabalho desde os anos 1970: flexibilização, terceirização, heterogeneização, precarização. Além disso, há um fato novo a ser analisado que são os movimentos de contestação sociais às políticas adotadas no enfrentamento da crise.

2. Trabalho, desigualdade e pobreza
O Brasil apresenta marcas históricas que remontam ao processo colonizador, destacando-se dentre essas marcas a pobreza, a concentração de renda e a desigualdade social. Por isso pobreza e desigualdade não são fenômenos novos, mas sim obstáculos reais que impediram a conformação de uma sociedade mais justa e democrática. Estes fatos se agravaram ainda nas últimas décadas do século XX quando o modelo de industrialização do país se esgotou rapidamente e a sociedade foi tomada por uma grave crise socioeconômica. Com a estagnação econômica o nível de renda per capita caiu fortemente, ampliando os diferenciais entre as parcelas mais ricas e pobres da população, o que exacerbou ainda mais o processo de concentração de renda em todo o país. Programas econômicos de estabilização agravaram também as condições do mercado de trabalho, levando a aumento das taxas de desemprego, a expansão da informalidade e a redução dos salários básicos, bem como estimularam a continuidade de deslocamentos populacionais, o que provocou inchaços das grandes metrópoles urbanas que passaram a concentrar a maior parte da população do país. Diante dessas características e com uma população cada vez menor coberta pelo sistema de proteção social, criaram-se condições favoráveis para a manutenção do processo de exclusão social e de expansão do número absoluto de pobres. É certo que desde os anos finais do século XX e ao longo do século XXI – com a valorização real do salário mínimo e com políticas mais abrangentes de renda mínima – houve uma melhoria na distribuição da renda do trabalho e também uma diminuição da pobreza relativa no País. Entretanto, os indicadores ainda revelam um quadro de forte insuficiência de renda, concentração excessiva da renda e elevado grau de pobreza. Por isso, a ABET definiu como eixo estratégico os temas inter-relacionados de trabalho, desigualdade e pobreza, procurando apoiar a elaboração de estudos, pesquisas e análises que mostrem relações efetivas entre melhorias no mercado de trabalho (especialmente a ampliação do emprego formal e dos salários) e efeitos positivos sobre a redução da pobreza e da desigualdade, em especial a desigualdade de renda. A integração desses temas também faz parte da ação estratégica da Associação, uma vez que se entende que melhorias nas condições de trabalho e redução das desigualdades são condições essenciais para o país superar sua condição de nação subdesenvolvida.

3. Políticas públicas de trabalho
Políticas públicas de trabalho visam contribuir para fortalecer a inserção ocupacional e fornecer renda temporária com o objetivo de mitigar os efeitos de privação e desconforto de trabalhadores atingidos por situações de desocupação. Seguro desemprego e outros auxílios emergenciais, via transferência de renda, bem como qualificação profissional, intermediação de mão-de-obra, acesso a crédito, promoção de associativismo e cooperativismo estão entre as políticas de trabalho e deveriam estar articulados a outras políticas públicas de forma a maximizar seus efeitos no sentido de melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Nesse sentido, é importante a existência de instrumentos efetivos para o controle social sobre a execução destas políticas. Considerando a relevância dessa temática, a ABET definiu Políticas Públicas de Trabalho como um dos eixos estruturantes das ações da Associação. Nesse contexto, ganham relevância análises, estudos e avaliações de programas que procurem identificar potencialidades e limites dessas políticas, bem como sugerir mudanças e melhorias na eficiência das mesmas. Dessa forma, temas relativos às novas tendências do mundo do trabalho; diversificação de ações e programas; políticas de integração de sistemas públicos e privados; articulação horizontal e vertical dessas políticas com as demais políticas de desenvolvimento do país; participação e gestão social; e outras políticas afins são essenciais para a composição da pauta dos fóruns de debate da ABET.

4. Regulação e instituições públicas do trabalho
As transformações no mundo do trabalho que vêm se processando desde os anos 1970, sob um contexto de flexibilização, têm colocado em evidência a questão da regulação social do trabalho. Encontram-se em discussão as crises dos padrões de regulação fordista, nos países centrais, ecorporativista, em países como o Brasil. O tema da Reforma Sindical e Trabalhista, sob diversos prismas, coloca em questão: os papéis do Estado, da Justiça do Trabalho, das Juntas de Conciliação e Julgamento, dos sindicatos, das negociações coletivas, de agências públicas e privadas de intermediação de mão de obra; os processos de discussão pública dos novos rumos da regulação do trabalho; o novo arranjo institucional e jurídico capaz de sustentar um novo padrão de regulação.

5. Reconfigurações do trabalho
O objetivo deste eixo-temático é articular contribuições advindas de diferentes áreas do conhecimento sobre as novas / velhas configurações que o trabalho assume, em análises aprofundadas sobre as razões da mudança. Nesse sentido, contempla temas de pesquisa tais como: os novos sentidos do trabalho; intensidade e agravos/sofrimentos decorrentes do trabalho; o papel dos agentes sociais na reconfiguração e organização do trabalho; subcontratação, flexibilização, informalidade, precarização do trabalho; formas de resistência referidas ao trabalho; formas e organização do trabalho em empreendimentos solidários.

6. Formas de organização e lutas dos trabalhadores
O objetivo deste eixo-temático é abordar as diferentes iniciativas e configurações que a organização e as lutas dos trabalhadores têm assumido nos últimos tempos, no Brasil e no mundo. Diante de um contexto de importantes transformações nos modelos produtivos e nas formas de organização do trabalho, quando têm sido introduzidas novas dinâmicas entre as escalas local, nacional, regional e global, procura-se compreender os novos padrões de ação sindical e outras formas de organização e de luta que nasceram como opções dos trabalhadores. Assim, serão contempladas reflexões sobre: práticas inovadoras de sindicatos de categorias tradicionais e de novas categorias de trabalhadores; as tendências da luta sindical em categorias com tradição de organização em diversos patamares; o perfil e estratégias de ação das novas entidades de representação nacional dos trabalhadores; as experiências das novas formas de organização dos trabalhadores, como a economia solidária e outras formas associativas; novas iniciativas internacionais de lutas dos trabalhadores; os novos espaços institucionais de lutas dos trabalhadores; entre outros temas.

7. Formas de discriminação no trabalho
A discriminação no trabalho se expressa de diversas formas envolvendo (distinta ou articuladamente) dimensões como: sexo, geracionais, orientação sexual, etnia/raça, região, tipo do trabalho, práticas de diferenciação salarial e contratual entre outras. Situações de discriminação no trabalho têm sido identificadas em processos de assedio de toda natureza: moral, sexual e funcional. É preciso efetivar nas relações de trabalho o princípio constitucional da igualdade ente mulheres e homens. Por que nas relações de trabalho as práticas discriminatórias proliferam e se ancoram em culturas organizacionais orientadas pela crença da supremacia do masculino sobre o feminino.

8. Formas de trabalho degradante
A profunda mudança no modelo econômico brasileiro nos anos noventa impactou diretamente o ambiente de trabalho, seja por meio das novas formas de gestão do trabalho, seja pela intensificação de estratégias das grandes empresas para reduzir custos, como o processo de terceirização. A exigência de maior produtividade e menor custo para ganhar competitividade levou a intensificação do trabalho. Ao lado disso, especialmente – mas não exclusivamente – nas atividades agrícolas velhas práticas de subjugar o trabalhador permanecem como meio de retê-lo no local de trabalho. Além disso, as condições de busca, contratação e remuneração do trabalhador sazonal – muitas vezes migrantes de regiões distantes – são quase sempre desfavoráveis aos trabalhadores, levando-os à jornadas extenuantes e condições precárias de trabalho e moradia. Diante disso, este eixo tem como objetivo estimular o debate e a divulgação dos estudos que focam as formas de trabalho que desrespeitam a dignidade humana, não garantindo os direitos fundamentais da pessoa humana relativos ao trabalho. Dentro de uma perspectiva multidisciplinar, espera-se que os estudos componham um quadro que exponha as diversas facetas dos trabalhadores sob condições de trabalho degradante, tais como os problemas sociais, psicológicos, legais, saúde e segurança, econômicos etc., além de contribuições de historiadores cujo trabalho esteja relacionado ao tema.

9. Trabalho, tecnologia e educação
O mundo vive uma nova revolução técnico-científica com implicações profundas sobre as formas de produção e da organização do trabalho, demandando novas formas de geração e socialização do conhecimento.  Nesse sentido, são centrais temas como: a ciência, o trabalho humano e as novas fronteiras da vida humana; ciência e tecnologia; o papel do conhecimento na sociedade contemporânea; novas necessidades e possibilidades da organização da produção e do trabalho; desafios atuais da educação e da qualificação profissional, frente às novas demandas do mercado e às possibilidades de desenvolvimento, de inclusão social e de cidadania; certificação de competências.
10. Trabalho e saúde 
A alta prevalência de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho caracteriza o campo da Saúde do Trabalhador, assim como as relações sociais no Brasil desde a década de 70. Além disso, assiste-se à mudança no perfil do adoecimento devido à introdução de novas formas de organização e de gestão que tem aumentado a intensidade do trabalho e levado à deterioração das condições de trabalho. Do mesmo modo, observa-se a fragilidade do movimento sindical para assumir o protagonismo da luta para a melhoria das condições de trabalho e a insuficiência das ações e políticas públicas de  proteção à saúde dos trabalhadores. Revelar os determinantes dos agravos a saúde dos trabalhadores, a precariedade do funcionamento das empresas e as duras condições de trabalho, assim como os mecanismos necessários à negociação social e a transformação das situações de trabalho são elementos centrais para o debate, em perspectiva multidisciplinar, centrado em diversas abordagens de análise do trabalho.

11. Rerritorialização do trabalho e migrações
A recente retomada do crescimento econômico, a partir de 2004, ampliou a geração de empregos e também da formalização dos contratos de trabalho. Por outro lado, mas no mesmo sentido, houve investimentos em setores produtores de matérias primas básicas e energia, tais como a expansão do agronegócio para o cerrado e região amazônica, a instalação de siderúrgicas e hidrelétricas na Amazônia, instalação de novos portos para escoamento da produção e novos pólos industriais exportadores. Todo esse processo teve impacto sobre o território e sobre as populações, que foram expulsas de seus locais de origem: trabalhadores rurais, pequenos produtores familiares de produtos de subsistência, populações tradicionais (índios e quilombolas), provocando um novo (velho) processo de acumulação primitiva brasileiro.  Todos esses acontecimentos provocaram a emergência de novos fluxos migratórios de trabalhadores tanto interregional como intrarregional. Diante deste contexto, este eixo visa discutir quais foram as principais mudanças sobre o território, tanto urbano, como rural, que provocam mudanças na forma de inserção ocupacional e das oportunidades abertas pelo processo de crescimento econômico. Para essa discussão é fundamental o diálogo multidisciplinar entre economistas, sociólogos, geógrafos, antropólogos, assistentes sociais e historiadores focados na reterritorialização do trabalho e do capital e seus efeitos sobre os fluxos migratórios.
12. Fontes de pesquisa e metodologias nos estudos do trabalho
O trabalho, como atividade central da vida, contempla uma multiplicidade de dimensões sociais interdependentes, sendo interpretado diversamente pelos diversos ramos das ciências. O crescente reconhecimento dos limites do conhecimento científico parcelizado fez emergir, entretanto, a necessidade de estabelecer maior relação entre os saberes. Nessa direção, o presente eixo-temático da ABET objetiva se constituir em espaço de reflexão teórico-metodológica de modo que os estudos e pesquisas do trabalho se orientem pela perspectiva da interdisciplinaridade. Com essa busca do diálogo interpretativo e articulado entre as disciplinas será possível uma visão menos fragmentada do trabalho, dos trabalhadores e de seus movimentos associativos, para uma melhor compreensão desta realidade complexa e em constante mudança. Para subsidiar esse esforço, dispõe-se atualmente no Brasil de uma ampla gama de fontes de informações, levantadas tanto por órgãos governamentais quanto por entidades da sociedade civil. Faz-se necessário aprofundar o debate sobre as possibilidades, abrangência e preservação dessas informações, fundamentais para o desenvolvimento de pesquisas sobre o mundo do trabalho.